Como os aromas dos perfumes podem desencadear um enxame de recordações e sensações de desejo e repulsa? Há anos a ciência busca explicar a relação entre as memórias, sentimentos e o cheiro.
Os perfumes têm um poder especial sobre nossas emoções, desencadeando lembranças e sentimentos que nos transportam para momentos do passado e afetando diretamente nosso humor e bem-estar.
Segundo um estudo da Universidade Rockefeller, 35% das pessoas analisadas conseguiam se lembrar de algo que haviam cheirado, em comparação com apenas 5% do que veem, 2% do que ouvem e 1% do que tocam. Além disso, a pesquisa mostrou que podemos lembrar de um cheiro com 65% de precisão mesmo após um ano.
Para explorar essa relação entre fragrâncias, memória e emoções, é importante entender a base científica por trás do olfato e sua ligação direta com o cérebro.
O poder do olfato
O olfato é um dos nossos sentidos mais primitivos e, diferentemente dos outros sentidos, ele é processado diretamente no sistema límbico do cérebro, região responsável por emoções e memórias.
Esse sistema inclui a amígdala, que regula nossas reações emocionais, e o hipocampo, essencial para a formação de memórias. Por essa razão, os aromas conseguem evocar lembranças e reações emocionais com uma intensidade que outros estímulos sensoriais não têm.
Quando sentimos o cheiro das fragrâncias, as moléculas dos perfumes são captadas pelos receptores olfativos nas narinas, que transmitem essas informações diretamente ao sistema límbico.
Assim, a resposta emocional que os perfumes despertam pode ser instantânea e visceral, transportando-nos para um momento, lugar ou sentimento específico.
Perfumes e o “Efeito Madeleine”
O escritor francês Marcel Proust foi um dos primeiros a descrever como um aroma pode evocar memórias vívidas e, desde então, esse fenômeno foi batizado de “Efeito Madeleine”.
Esse termo refere-se à experiência de sentir um cheiro que traz à tona uma lembrança tão viva que parece uma viagem no tempo. O “Efeito Madeleine” ocorre porque o sistema límbico, ao receber estímulos olfativos, ativa memórias armazenadas, permitindo que um simples aroma nos leve de volta a um momento especial. Esse efeito é intensificado quando a fragrância associada a uma memória é única e específica.
Perfumes de infância, por exemplo, ou cheiros característicos de locais onde passamos momentos importantes, podem funcionar como “portais” para recordações que, de outra forma, poderiam se perder.
Estudos mostram que a memória olfativa é especialmente duradoura, permanecendo em nosso cérebro até mais que memórias visuais ou auditivas.
A influência dos perfumes no humor
Os perfumes são usados não apenas para evocar memórias, mas também para influenciar o humor e o bem-estar. Os diferentes tipos de fragrâncias têm a capacidade de alterar o estado emocional de quem os usa ou de quem está por perto.
Aromas cítricos, como laranja e limão, tendem a trazer frescor e estimular a energia, enquanto fragrâncias florais, como lavanda e rosa, estão ligadas ao relaxamento e à tranquilidade.
Alguns perfumes têm propriedades calmantes ou revigorantes. O óleo essencial de lavanda, por exemplo, é conhecido por reduzir a ansiedade e induzir o sono.
Já aromas como o de hortelã-pimenta são associados a aumento de concentração e energia. Isso explica por que algumas pessoas escolhem perfumes diferentes para o dia a dia e para momentos de relaxamento ou ocasiões especiais, buscando adequar a fragrância ao estado de espírito desejado.
Bem-estar
O sentido olfativo está diretamente ligado à nossa resposta de luta ou fuga, e certos aromas ajudam a reduzir os níveis de estresse, contribuindo para o equilíbrio emocional.
Existem fragrâncias específicas que estimulam a produção de neurotransmissores, como a serotonina e a dopamina, substâncias ligadas à felicidade e à sensação de prazer.
Isso ocorre principalmente com perfumes que possuem notas de baunilha, que geram uma sensação de acolhimento e conforto, e de jasmim, que induz ao relaxamento e até aumenta a autoestima.
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